O espaço do Mercado Público inaugurado em 1851, com o passar do tempo, tornou-se insuficiente. Na década de 1880, a população se aglomerava nas suas imediações para vender e comprar pescados e gêneros da lavoura, comercializados pelos lavradores locais e também pelos imigrantes, que realizavam duas vezes por semana a chamada Feira dos Colonos. As quitandeiras estavam presentes dentro do prédio e fora dele também, vendendo seus quitutes na praia do Mercado.
A venda dos gêneros de lavoura e do pescado a céu aberto gerou críticas, em função da situação a que eram submetidos os comerciantes e da qualidade dos produtos vendidos, que poderiam se decompor em decorrência da exposição aos raios solares. Além do espaço do Mercado ser considerado acanhado, alguns o consideravam desgracioso e tortuoso. Havia aqueles que julgavam seu local inapropriado por impedir a vista do Largo da Matriz para o porto e vice-versa, e defendiam a construção de um novo prédio em outra área. O Mercado também era um espaço de agitação social, de brigas e prisões. Podemos imaginar que isso contribuía para que seu local fosse considerado inadequado.
A inauguração do Galpão de Peixe, em 1891, representou uma ampliação do espaço coberto destinado ao comércio de gêneros alimentícios e abastecimento da cidade, mas a ideia de construção de um novo prédio para o Mercado ganhou força novamente em 1895. Esse era um período de reorganização do espaço da cidade, em que se buscava regularizar suas ruas e edificações. Locais como cortiços, por exemplo, não poderiam maisser construídos no centro da capital. A cidade estava em reforma. A construção do novo Mercado foi iniciada no ano seguinte.
Na tarde do dia 28 de dezembro de 1896, autoridades e parte da população pararam na Rua Altino Corrêa, atual Conselheiro Mafra,para acompanhar a colocação da pedra fundamental do novo Mercado. As pessoas presentes brindaram e comemoraram a ocasião.
A inauguração do novo prédio ocorreu em 5 de fevereiro de 1899. Ovelho prédio foi demolido em março do mesmo ano em meio a críticas da oposição veiculadas no jornal O Estado. Esta alegava que a nova construção era insuficiente, e defendia o reaproveitamente do antigo prédio.
Onovo Mercado também possuía um regulamento interno semelhante ao anterior, mas adaptado a um novo contexto. A cidade, desde 1894, chamava-se Florianópolis e não mais Desterro; a escravidão fora abolida em 1888 e a República proclamada em 1889. As restrições à circulação dos escravos não existiam no novo regulamento elaborado,masoutras formas de limitação estavam presentes. Determinou-se, por exemplo, que as casinhas só poderiam ser alugadas a pessoas “morigeradas e de bons costumes” (MELLO, 2014, 60) por meio de concorrência pública. Os criados e quaisquer outras pessoas foram proibidos de permanecer além do tempo necessário para fazer suas compras no interior do Mercado. Pode-se perceber que o espaço da cidade continuava em disputa.
À medida que a cidade buscava aparentar modernidade, simulava deixar para trás os cantos de origem africana que as pessoas escravizadas trouxeram na memória e transmitiram para seus filhos e netos, sempre entoados pelos estivadores do cais, pelos carregadores de volumes e pelas vendedoras dealimentos nas ruas de Desterro. No entanto, o cheiro do frigir o peixe na praia, dos pasteizinhos, dos angus, das ervas de chá, do café, dos bolinhos de milho e feijão, das frutas maduras, dos pães e biscoitos quentinhos, permaneceram sempre presentese vívidos para a população local.
Referências do tema "Viver de quitandas"