Alguém que desembarcava no porto da capital da Província de Santa Catarina muito provavelmente tinha feito a viagem graças a tripulantes escravizados. Isso quando o navio não transportava escravos comprados ou vendidos, ou ainda acompanhando passageiros. Na chegada, o visitante se depararia certamente com cativos barqueiros em canoas, faluas ou baleeiras trazendo farinha, peixes, milho, verduras, amendoim, legumes e frutas do interior da Ilha que abasteceriam a cidade ou seriam vendidos para fora da Província.
Estatísticas publicadas pela imprensa local confirmam o dinamismo das atividades portuárias. De acordo com Relatório apresentado pelo Presidente da Província no ano de 1861, no ano anterior havia dado entrada no porto 643 embarcações com tripulação de 1.487 brasileiros, 3.452 estrangeiros e 883 escravos, com carga de 77.329 toneladas, e deram saída 639 embarcações com tripulação de 1.473 brasileiros, 2.600 estrangeiros e 694 escravos, com carga de 76.575. As pessoas ocupadas em atividades marítimas, e as relacionadas indiretamente com ela, chegavam a 16% da população.
Era impossível não notar a presença dos estivadores,responsáveis por carregar e descarregar os navios nos trapiches, ou, mais comum, transportar as cargas em pequenas embarcações entre o cais e os navios ancorados na baía. Muitos dos estivadores eram livres ou libertos, outros tantos eram escravos. Entre eles havia certamente muitos africanos. Geralmente trabalhavam em grupos compostos por homens e ritmados por seu próprio canto, que auxiliava na execução da árdua tarefa. Entre eles esteve Augusto Mina, que trabalhava para o comerciante Maximiano José de Magalhães e faleceu afogado nas águas do porto após de cair do barco, em junho de 1861.
Além de ser lugar de trabalho e de embarque e desembarque de mercadorias, o portoera um local de encontro. Por ele circulavam passageiros e tripulações de condições jurídicas distintas – livres, escravizados elibertos – e de origens as mais variadas. Por ali chegavam as notícias dacapital do Império e dos outros portos atlânticos, os rumores e as notícias de outros territórios onde a escravidão era combatida ou tinha sido abolida. Navios estrangeiros eram numerosos, visto que ainda não existia o canal do Panamá, que desviou o transporte com destino ao Pacífico. Era tentador fugir da escravidão na Ilha e aceitar a proposta de trabalhar em uma embarcação. Se fosse estrangeira, as chances de recaptura seriam pequenas.