Um abuso de natureza grave vai tomando proporções tais que fortes prejuízos trará aos senhores de escravos, se o governo não for em seu auxílio.
Há muito se ouvem queixas da evasão de escravos em navios americanos, surtos no ancoradouro de Santa Cruz; e escravo que se escapa nesses navios é perdido para o senhor.
No dia 20 deste mês, aportou em Santo Antonio uma lancha de um navio norte-americano; e retirando-se à noite, desapareceram com ela dois escravos. Um crioulo de nome Fructuoso, escravo de João José da Cunha e Silva, e um pardo Joaquim, escravo de João Theodozio Machado; ambos escravos habituados ao serviço do mar, sendo que o primeiro há muito dizia que havia de fugir com os americanos. O navio saiu hoje, tocado pelo vento rijo que sopra do sul.
O tratamento que recebiam esses escravos, que mais pareciam livres, é indício de que só o desejo de viajar e correr mundo os levou a abandonar os senhores.
Sendo o caso grave, pedimos providências a quem competir, parecendo-nos prudente que desde já se exerça fiscalização mais ativa sobre esses navios, mandando para bordo alguns guardas, que nos últimos dias de estada vigiem o navio; que de outro modo, quem tiver escravos com saudades de viajar, não pode dormir tranquilo.
O Despertador dá destaque para esse apelo vindo da freguesia de Santo Antônio, publicando-o na íntegra na primeira página.
O DESPERTADOR. Desterro, n. 256, p. 1, 27 de junho de 1865. Biblioteca Pública de Santa Catarina.