Marcelino Antônio Dutra é conhecido hoje como o poeta patrono da cadeira número 34 da Academia Catarinense de Letras. Nasceu e faleceu no Ribeirão da Ilha, onde era proprietário de terras e escravos. Filho do alferes Manoel Dutra Garcia e de dona Joaquina Maria da Conceição, Marcelino teria aprendido a ler e a escrever já adulto, com o vigário da paróquia do Ribeirão. Exerceu o cargo de escrivão do Juizado de Paz do Ribeirão, na década de 1830, e foi também mestre-escola. Quando a população do Ribeirão foi recenseada em 1843, Marcelino era chefe de família: morava na freguesia com sua esposa Florinda Cândida de Freitas e dois filhos pequenos, Ovídio, então com 4 anos, e Marcelino, com 2. O casal possuía, na época, quatro escravos africanos: Manoel, com aproximadamente 50 anos, Antônio e Afonso, ambos com cerca de 30 anos, e Maria Mina, com 28. Antônio e Afonso tinham pertencido aos pais de Marcelino desde que desembarcam no Brasil, ainda rapazes, em 1828. Marcelino ainda herdaria a africana Benedita, chegada ao Ribeirão aos 10 anos de idade, em 1840.
Marcelino Dutra foi eleito deputado provincial pela primeira vez em 1844, e logo se alinhou a Jerônimo Coelho e ao chamado “partido barraquista ou judeu”. Manteve longa polêmica com o Arcipreste Joaquim de Oliveira Paiva na imprensa. No poema “Assembléia das Aves”, Marcelino Dutra representou o mundo político catarinense como uma comunidade ornitológica em que as aves fazem raciocínios humanos e discutem entre si. O Cisne seria Jerônimo Coelho, o Quero-quero, Joaquim Augusto do Livramento, o Sabiá, o próprio Marcelino. A obra, publicada na Tipografia do Correio Mercantil, no Rio de Janeiro, a pedido de JerônimoCoelho, é considerada um marco da literatura catarinense. Marcelino Dutra assinou sua obra literária com vários pseudônimos: Inhato-Mirim, M.A.D., Poeta do Brejo, P. do B., e Gil Fabiano.
Os biógrafos o descrevem como roceiro que, no começo da vida, andava meio maltrapilho e de tamanco em Desterro, por ser pobre. Teria vivido de cultivar hortigrangeiros e trazê-los para vender na Praça de Mercado de Desterro. A presença de escravos emsua propriedade indica uma posição social diferente. Era mais provável que seus escravos africanos se ocupassem da roça e da comercialização dos produtos, enquanto ele trabalhava como professor, escrivão e mais tarde deputado. Mas é certo que suas rendas vinham da atividade rural, pois há registro de que procurou desenvolver a cultura de algodão noRibeirão, e que alcançou, em 1867, uma medalha de prata na Exposição Nacional.
ARQUIVO DO TABELIONATO DE PAZ DO RIBEIRÃO DA ILHA, Livro da Matrícula da Freguesia de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão, elaborado pelo Subdelegado Suplente, o Capitão Manoel Pires Ferreira, no ano de 1843.
ARQUIVO HISTÓRICO ECLESIÁSTICO DE SANTA CATARINA. Livro de Batismos do Ribeirão da Ilha – Escravos (1807 – 1854).
ARQUIVO HISTÓRICO ECLESIÁSTICO DE SANTA CATARINA. Livro de Batismos de Escravos e Livres (1846-1861).
CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro. Vol. 2 Memória. Florianópolis: Lunardelli, 1979.
SOARES, Iaponan. Marcelino Antônio Dutra: um aspecto formativo da literatura catarinense. Porto Alegre: Sulina, 1970.
DUTRA, Marcelino Antônio; JUNKES, Lauro. Assembléia das aves e outros poemas. Pesquisa, organização e atualização ortográfica de Lauro Junkes. Florianópolis: Nova Letra; Academia Catarinense de Letras; Associação Catarinense de Imprensa, 2006.
PEREIRA, Nereu do Vale; PEREIRA, Francisco do Vale; NETO, Waldemar Joaquim da Silva. Ribeirão da Ilha – vida e retratos: um distrito em destaque. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 1990.