Trajano Margarida foi um professor, funcionário público, músico e poeta florianopolitano. Nasceu em 1889, meses antes da Proclamação da República. Neto de uma mulher escravizada, Geralda, a quem presta homenagem em algumas de suas poesias, foi criado pela mãe, a quem ajudava na infância vendendo amendoim “torradinho” nas ruas da cidade. Tendo começado a exercer o magistério em 1910, foi nomeado professor em Itajaí dois anos mais tarde, e, em 1917, ingressou como servente na Secretaria Geral do Estado, logo assumindo o cargo de amanuense na Secretaria do Interior e Justiça, onde aposentou-se em 1941.
De 1912 em diante, Trajano Margarida publicou seus poemas nos principais jornais de Florianópolis. Apreciador de sonetos, escreveu e publicou de forma independente pequenos livros como O natal do orfãozinho (1914), A Pátria e o Sorteado (1917), A fome e a sede no Ceará (1919) e Minha Terra (1926). Lucésia Pereira calcula em cerca de 90 os poemas publicados pelo poeta. Músico reconhecido por sua voz marcante, Trajano costumava fazer serestas e era muito presente nas atividades relacionadas ao carnaval, organizando cordões e compondo marchinhas. Algumas delas foram reunidas pelo autor na obra Canções Carnavalescas, publicada em 1930.
Com Ildefonso Juvenal, organizou as celebrações da abolição em 1914 e 1915, e fundou o Centro Cívico e Recreativo José Boiteux (1920), do qual foi o primeiro presidente. Também teve importante participação na fundação do Clube de Futebol Figueirense (1921) e do Centro Catarinense de Letras (1925). Organizou e produziu inúmeras atividades lúdicas e festivais na capital catarinense, empenhando-se, durante toda sua vida, na promoção da cultura. Em 1927, iniciou um projeto intitulado Trovas Catarinenses, com o propósito de reunir e preservar canções populares do estado.
Portador de hidrocefalia, Trajano Margarida morreu no ano de 1946.
GARCIA, Fábio. Negras Pretensões: a presença de intelectuais, músicos e poetas negros nos jornais de Florianópolis e tijucas no início do século XX. Florianópolis: Umbutu, 2007.
MARGARIDA, Trajano. Canções Carnavalescas. Florianópolis: Typografia Schuldt, 1930.
PEREIRA, Lucésia. Florianópolis, Década de Trinta: ruas, rimas e desencantos na poesia de Trajano Margarida. 2001. Dissertação (Mestrado em História) – Centro de Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
RASCKE, Karla Leandro. Escritos de Trajano Margarida: intelectualidade negra no Pós-abolição em Santa Catarina (Brasil). In: Estudios Afrolatinoamericanos 3: Actas de Las Quintas Jornadas de GEALA, v: 1, Buenos Aires: Ediciones del CCC Centro Cultural de la Cooperación Floreal Gorin, 2017. p. 250-260.
TEIXEIRA, Luana; PEREIRA, Lucésia (orgs.) Trajano Margarida: poeta do povo. Florianópolis: Cruz e Sousa, 2019.
Trajano Margarida no Portal Catarina (link)