O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, mas seu fim não trouxe melhores condições de vida para a maior parte da população descendente das pessoas que foram escravizadas. A popularização do racismo científico e suas ideias sobre as diferenças entre brancos, negros, índios e mestiços resultou em mais dificuldades e violência para aqueles que já sofriam nos estratos mais baixos da sociedade. No Sul do Brasil, essa exclusão teve agravantes em razão dos projetos de imigração. Muitos acreditavam que a chegada de imigrantes europeus iria branquear a população e “purificar seu sangue”. A República brasileira, proclamada um ano após o fim da escravidão, embora tivesse por princípio a igualdade de acesso aos direitos civis, não fez nenhum esforço político para diminuir as desigualdades sociais provocadas por séculos de relações escravistas. Projetos de acesso à terra e ao ensino formal e técnico passaram longe da agenda pública nas primeiras décadas republicanas, criando grandes obstáculos para a inserção dos egressos da escravidão e seus descendentes na nova ordem política.
Não à toa, é no imediato pós-abolição, em um movimento rumo à cidade, em busca de trabalho e de uma mudança de fato em suas vidas após o fim da escravidão, que se intensifica a aglomeração da população empobrecida nas periferias urbanas, nas favelas, nos grandes cortiços e nos morros. Já para aqueles que ficaram no campo, as transformações foram poucas. Novas formas de exploração foram empregadas e a possibilidade de tornar-se dono de terras, desejo compartilhado entre os ex-escravos, tornou-se um sonho distante para a maioria da população.
Muitos se esforçaram para mudarsua situação econômica e social, mas poucos conseguiram. Ainda assim, a população afrodescendente organizou-se, afirmou-se negra, embora apenas uma parcela pequena tenha alcançado certa mobilidade social. As exceções confirmavam a regra da exclusão, mas também foram o embrião de movimentos sociais de luta contra o racismo que se perpetuaram ao longo do século 20. Homens e mulheres negras que puderam alcançar êxito como intelectuais, artistas, políticos foram fundamentais para expor o lado perverso da desigualdade social brasileira e buscar a inclusão de seus irmãos e irmãs na modernidade do início do século 20.
Em Santa Catarina não foi diferente. Apesar de haver uma memória oficial que nega a presença dos negros no Estado, afrodescendentes eram cerca de 28% da população da paróquia de Desterro em 1890. Na capital, eles ocupavam todos os espaços de trabalho: fábricas, construção civil, comércio, serviço público, tipografias e jornais; homens e mulheres negras faziam-se presentes na vida republicana da capital catarinense. No dia a dia, buscaram afirmar seus direitos como cidadãos brasileiros e conquistar igualdade de condições, enfrentando preconceito e discriminação, mas também obtendo alguns sucessos, como, por exemplo, a eleição de Antonieta de Barros a deputada estadual em 1934, primeira mulher negra a ocupar esse cargo no Brasil.