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Manuscrito

Cartas trocadas entre Virgílio Várzea e Cruz e Sousa
Data: 1888-1889

Carta de Virgílio Várzea a Cruz e Sousa (s/d)

“(...)

Vibra também que, desde que aqui cheguei (Rio de Janeiro), tive logo um excelente lugar na imprensa, e com remuneração, principiando a ganhar dinheiro desde o dia em que pisei em terra, o que nunca até hoje se deu com um escritor vindo da província, maximé de província pequena, e sem nome literário, como Santa Catarina. Dize-lhes que todos os meus trabalhos tem sido grandemente, e repetidíssimas vezes, transcritos por toda a extensão do Brasil e, profusamente nas principais folhas portuguesas de Lisboa e Porto, os poderosos centros intelectuais de Portugal. Enfim, o teu extraordinário talento executará muito melhor do que eu digo e com mais eficácia.

(...)

Abraço-te saudoso.

 - Virgílio Várzea. P. S. Deves rasgar esta carta, após te servires dela: está mal escrita e pedantesca para estranhos.”

 

Carta de Cruz e Sousa a Virgílio Várzea

“Corte, 8 de janeiro de 1889.

Adorado Virgílio

Estou em maré de enjôo físico e mentalmente fatigado. Fatigado de tudo: ver e ouvir tanto burro, de escutar tanta sandice e bestialidade e de esperar sem fim por acessos na vida, que nunca chegam. Estou fatalmente condenado à vida de miséria e sordidez, passando-a numa indolência persa, bastante prejudicial à atividade do meu espírito e ao próprio organismo que fica depois amarrado para o trabalho.

(...)

 Não imaginas o que se tem passado por meu ser, vendo a dificuldade tremendíssima, formidável em que está a vida no Rio de Janeiro. Perde-se em vão tempo e nada se consegue. Tudo está furado, de um furo monstro. Não há por onde seguir. Todas as portas e atalhos fechados ao caminho da vida, e, para mim, pobre artista ariano, ariano sim porque adquiri, por adoção sistemática, as qualidades altas dessa grande raça, para mim que sonho com a torre de luar da graça e da ilusão, tudo vi escarnecedoramente, diabolicamente, num tom grotesco de ópera bufa.

Quem me mandou vir cá abaixo à terra arrastar a calceta da vida! Procurar ser elemento entre o espírito humano?! Para que? Um triste negro, odiado pelas castas cultas, batido das sociedades, mas sempre batido, escorraçado de todo o leito, cuspido de todo o lar como um leproso sinistro! Pois como! Ser artista com esta cor!

(...)

Abraça-te terrivelmente saudoso.

Cruz e Sousa”

Temas

A Desterro de Cruz e Sousa

Documentos

Virgílio dos Reis Várzea

Tags

discriminação
João da Cruz e Sousa
jornalismo
literatura
Pós-abolição
racismo
trabalho

VÁRZEA, Virgílio. Carta enviada a Cruz e Sousa depois de Virgílio se mudar para o Rio de Janeiro. In: JÚNIOR, Raimundo Magalhães. Poesia e Vida de Cruz e Sousa. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. Pp. 53-54.

SOUSA, João da Cruz e. Carta enviada à Virgílio Várzea em 8 de janeiro de 1889. In: MUZART, Zahidé Lupinacci. Cartas de Cruz e Sousa. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1993. pp. 33-35.