João da Cruz e Sousa nasceu na cidade de Nossa Senhora do Desterro em 24 de novembro de 1861 e foi batizado como pessoa livre, uma vez que sua mãe, Carolina Eva da Conceição, já era liberta. Ela trabalhava como lavadeira. Seu pai, Guilherme de Sousa, escravo do Marechal Guilherme Xavier de Sousa, exercia o ofício de pedreiro. Ele recebeu a alforria em 1864, um pouco antes do Marechal Guilherme partir para o front da guerra contra o Paraguai.
Além de ter significado a oportunidade de libertação do seu pai, a Guerra da Tríplice Aliança marcou a infância de Cruz e Sousa de outras maneiras. Desde o princípio da guerra, no final de 1864, a população de Desterro pôde testemunhar diretamente algumas das repercussões mais concretas do conflito protagonizado por Brasil, Argentina e Uruguai. Isso porque era na Ilha de Santa Catarina que se mantinham aquartelados muitos dos batalhões que seguiam rumo à região do Rio da Prata. Também na Capital da Província muitos soldados, doentes ou feridos permaneciam internados para tratamento. A população convivia com o medo das doenças trazidas pelos soldados desde o front (sobretudo a cólera, a varíola e o beribéri).
Talvez o menino João fosse espiar, no trapiche do Forte de Santa Bárbara, ou no próprio Campo do Manejo, o vai-e-vem dos militares que embarcavam nos navios rumo aos campos de batalha, ou que desembarcavam de lá vindos. Talvez pudesse mesmo ver, dos portões da chácara do Marechal Guilherme, o andarilhar dos ex-combatentes que, inválidos, passavam a viver como indigentes em asilos ou amparados pela caridade alheia nas ruas da cidade.
Já mais crescido, João deve ter atentado para as histórias contadas pelos soldados e reelaboradas pelos adultos ao seu redor. A maioria dos soldados do Exército brasileiro era de origem africana. Muitos eram livres e haviam sido recrutados à força para o exército, outros haviam sido escravos alforriados com a condição de servir. De volta, buscavam reconhecimento como cidadãos brasileiros.