A Avenida Hercílio Luz, então conhecida como Avenida do Saneamento, é uma das principais obras das reformas urbanas de Florianópolis na Primeira República, que compreenderam a distribuição de água canalizada, a implantação de iluminação pública por energia elétrica e ainda a canalização do esgoto no centro da cidade.
A instalação do serviço de abastecimento de água encanada teve início em 1909, sendo seus mananciais o Rio Assopra (do Itacorubi) e o Rio Ana D’Ávila (da Lagoa da Conceição). O sistema tinha capacidade para fornecer 180 litros por habitante/dia, a partir de um cálculo populacional de 15 mil pessoas. A obra de infraestrutura foi viabilizada pela incorporação da caixa d’água no Morro do Antão (antiga fonte do Dr. Livramento) ao sistema. O serviço de abastecimento de água encanada foi inaugurado com festa em maio de 1910.
Também em 1909, foi assinado acordo entre o governo do Estado, a firma Simmonds e Adriano Saldanha para a instalação de iluminação pública, com energia elétrica, na cidade. Deixava-se para trás o sistema dos lampiões a óleo de peixe ou baleia. No ano seguinte, a nova iluminação foi inaugurada, contando com 500 lâmpadas de energia elétrica, o que deu novos ares às noites do centro da cidade.
A mais conhecida das obras deste período foi a de canalização do Rio da Bulha, que deu origem à Avenida Hercílio Luz. Planejada desde as décadas anteriores, foi sob a administração do governador Hercílio Luz que a obra teve andamento, acarretando a canalização do rio e sua retificação em algumas partes. Os terrenos adjacentes, que eram alagadiços ou ocupados por construções vistas como inadequadas ou precárias, foram posteriormente urbanizados e loteados. Na avenida, por sua vez, foramconstruídas edificações residenciais, comerciais e públicas “modernas”, como a sede do Instituto Politécnico de Florianópolis, instituição fundada em 1917 e voltada ao ensino de farmácia, odontologia, comércio e agrimensura.
No processo de canalização do rio e implantação da modernaavenida, inúmeras casas construídas nas imediações do rio foram demolidas. Esse processo intensificou a ocupação dos morros ao redor do centro da cidade e deslocou parteda população afrodescendente que vivia na região central da cidade.
As obras de melhorias urbanas, embora tenham trazido benefícios para a cidade,foram marcadas por um processo de exclusão. Na medida em que tais melhorias eram implantadas, parte da população era deslocada das áreas nas quais se podia delas usufruir, restringindo os benefícios da modernização apenas à parcela mais favorecida da sociedade. Isso levou a um processo de reprodução de áreas de exclusão no espaçourbano que ainda hoje perpetua a desigualdade de acesso à infraestrutura urbana.
ARAÚJO, Hermetes Reis. Fronteiras internas: urbanização e saúde pública em Florianópolis nos anos 20. In: BRANCHER, A. (Org.). História de Santa Catarina: estudos contemporâneos. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1999. p. 102-113.
CORRÊA, Carlos Humberto P. História de Florianópolis ilustrada. Florianópolis: Insular, 2005.
VELLOSO, Verônica Pimenta. Instituto Politécnico de Florianópolis. In: FIOCRUZ. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Online. Disponível em: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/pdf/instpolytflo.pdf. Acesso em: 13 jan. 2019.