Diversas atividades imprescindíveis ao funcionamento das cidades eram exercidas por mulheres escravizadas e libertas. A comercialização de alimentos era a principal delas, sendo, em vários locais do Mundo Atlântico, uma atividade exclusiva de mulheres.
Em Lisboa, havia legislação especial que impedia os homens de comercializarem doces, bolos, frutos, hortaliças, leite, mariscos, entre outros, para que não tirassem o meio de vida das mulheres pobres e decentes naturais do Reino.
Observava-se também uma rígida divisão sexual do trabalho em São Paulo de Luanda, em Angola, na África, onde os homens estavam praticamente excluídos de participar do pequeno comércio de alimentos. É da região de Angola e de territórios próximos a origem do termo quitanda. Kitanda, em umbundo, nomeia feiras e mercados. As quitandeiras de Luanda se dividiam de acordo com os produtos que vendiam, e algumas recebiam designações segundo a especialidade: mubadi wa fadinya eram mulheres vendedoras de farinha; mubadi wa fuba ya kindele, as vendedoras de farinha de milho; mubadi wa jifuluta, vendedora de fruta; mubadi wa jundende, vendedoras de dendê, por exemplo. A atividade destas mulheres garantia o abastecimento de gêneros alimentícios em Luanda e a manutenção do comércio de escravos, pois era em muitas delas que os navios negreiros adquiriam os produtos necessários para a travessia do Atlântico.A farinha era gênero indispensável nessas viagens, sendo que o feijão, a carne e o peixe seco estavam frequentemente presentes também.
No Brasil, desde os primeiros tempos da colonização portuguesa,o comércio varejista foi uma ocupação exercida, preferencialmente, por mulheres de origem africana, que vendiam suas mercadorias pelas ruas. Noentanto, mulheres brancas, indígenase homens também participavam desse comércio a retalho, embora em número bem menor.
Na capitania de Minas Gerais, as autoridades acusavam estas mulheres de serem receptoras de ouro e diamantes roubados ede prejudicaras vendas das lojas estabelecidas. Por estes e outros motivos, gradativamente, o espaço de circulaçãodelas foi restrito aos limites das vilas, cada vez mais longe das áreas de mineração, e seus gêneros foram submetidos à fiscalização e tributação. No Rio de Janeiro, em 1776, um grupo de mulheres quitandeiras indignadas coma possibilidade de serem desalojadas do local que ocupavam costumeiramente, em frente à Câmara, apresentaram manifesto escrito à Mesa da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Não eram trabalhadoras clandestinas, pagavam para exercer seu ofício, tirando licenças anuais para manter seu local de trabalho e, claramente, mantinham um nível de organização coletiva eocupacional bastante sofisticado.