Desde o período colonial, a Câmara era o órgão responsável por garantir a oferta de alimentos a preços justos, em quantidade e qualidade compatíveis com a necessidade da população. Assim, emitia licenças para comerciantes e vendedores ambulantes, aferia pesos e medidas, controlava preços e fiscalizava.
Havia tempo que o Largo da Igreja Matriz de Desterro servia de lugar de comércio de alimentos. Ali aportavam canoas vindas do interior da Ilha e do continente com verduras, legumes, frutas, farinha, peixes e outros gêneros. Já em 1791, o governo da Capitania de Santa Catarina estabeleceu barraquinhas que passaram a ser alugadas àqueles que vendiam os produtos. O local era frequentado pela população pobre, sendo que muitos dos vendedores eram de origem africana, escravizados ou libertos. Em 1831, a Câmara solicitou ao governo provincial a demolição das barraquinhas, alegando que eram “ alugadas a pessoas imorais e até escravos, e que desde a sua origem tem sido receptáculo de roubos e lugar de todo o gênero de prostituição, além do ridículo aspecto que faz apresentar à praia da praça da cidade”. (CABRAL, 1971, 81-2) No ano seguinte, o engenheiro militar Sepúlveda Ewerard considerava as barraquinhas “guaridas de vagabundos e escravos vadios” (CABRAL, 1971, 83).
Anos mais tarde, em 1838, a Assembleia Provincial aprovou uma lei autorizando a construção de um mercado, mas a falta de recursos atrasou o início da construção. Enquanto isso, a demolição das barraquinhas era retardada por influência de comerciantes que se beneficiavam com o intenso comércio no largo principal. Entre eles estava João Pinto da Luz, que possuía uma casa comercial naesquina da Rua Augusta.
Apenas em 1845, em razão da visita do Imperador, as barracas foram transferidas da região central para as proximidades do Forte de Santa Bárbara e da Ponte do Vinagre, onde o Rio da Fonte Grande desaguava no mar. Após a partida da comitiva imperial, o debate se incendiou e a divisão das opiniões deu origem aos dois primeiros partidos políticos da Província de Santa Catarina: o partido barraquista, também chamado de cristão, saquarema ouconservador e o partido vinagrista, conhecido ainda como judeu, luzia ou liberal. Os “barraquistas” desejavam a volta das barracas para o Largo eos “vinagristas” buscavam sua permanência nas proximidades da Pontedo Vinagre. Estava em discussão também o local onde seria construído o primeiro mercado. Marcelino Antônio Dutra, “vinagrista”conhecido como Poeta do Brejo, e o padreJoaquim Gomes de Oliveira e Paiva, pertencente ao partido “barraquista” e conhecido como Padre Cantiga ou Arcipreste Paiva, travaram acirrados debates na imprensa. Em 1847, surgiu uma vagapara a única cadeira de representação nacional da Província. O candidato “barraquista” ganhou a vaga e o prestígio alcançado pelo grupo foi determinante paraa decisão de construir o mercado na praia, no Largo da Matriz.