Na Província de Santa Catarina não foi diferente. Muitas mulheres também se encarregavam do abastecimento de gêneros básicos, principalmente, através do comércio ambulante. Em panos, barraquinhas, tendas, tabuleiros fixos ao chão ou cestos equilibrados magistralmente sobre a cabeça, as quitandeiras comercializavam diversas mercadorias. Pelas ruas, praças e praias de Desterro era possível avistá-las vendendo doces, frutas, pães, refrescos, aguardentes, flores, hortaliças, peixes, galinhas vivas, carnes, farinha, tecidos, charutos, velas, amuletos, bonecas, carvão, louças, entre inúmeras outras coisas. Geralmente, as quitandeiras comercializavam mais de um tipo de produto e podiam combinar a venda em lugares fixos e de forma ambulante.
Os livros de receitas e despesas da Câmara de Desterro registram os impostos recolhidos daqueles que trabalhavam como pombeiros, mascates ou ainda alugavam as casinhas e vãos da Praça de Mercado. É notável a presença de africanos e africanas alforriados ou ainda escravizados. Segundo Fabiane Popinigis, entre as 63 pessoas que pagaram imposto de pombeiro ou de quitanda, entre julho de 1850 e junho de 1851, 37 eram homens e 26 eram mulheres. Dentre os homens, 2 estavam pagando imposto para um escravo e 12 para uma escrava venderem seus produtos. Dentre as 26 mulheres pagando imposto, 3 delas eram pretas libertas e 13 eram escravas. Entre as mulheres que pagavam imposto de pombeira, que na época era de 3$200r (3.200 réis mensais) encontravam-se as "pretas forras" Rita de Jesus, Ana Maria e Catharina. Entre as escravas, 2 pagavam para vender, as outras tinham os impostos pagos pelas proprietárias. No Mercado, entre julho e dezembro de 1854, os espaços de quitanda entre os vãos eram ocupados por 3 homens e 23 mulheres, entre os quais havia 7 mulheres cujos nomes faziam menção a sua origem africana, como Simôa Mina, Anna Mina, Maria Mina, Josefa Caçange, Esperança Cabinda, Luiza Cabinda, Zeferida Calabá.
A Câmara definiu como pombeiros– sujeitos ao imposto de 3$200r anuais – aqueles que comerciavam gêneros alimentícios, provenientes de produção própria ou adquiridos dos lavradores das freguesiasda Ilha e do litoral adjacente e que trabalhavam a serviço do seu senhor ou senhora ou para si. No Mercado, poderiam entrar para adquirir produtos somente após as nove horas da manhã.Muitos pombeiros andavam com uma vara sobre os ombros com um balaio em cada ponta onde carregavam os produtos e passavam de porta em porta. Vendiam também comida pronta, como bolos e doces. Muitasmulheres viúvas ou solteiras dependiam do trabalho de escravos e escravas de ganho para seu sustento; tal relação de dependência mútua dava aos escravos algum poder de barganhae permitia-lhes, possivelmente, acumular pecúlio com vistas à alforria.
Para a Câmara, mascates eram aqueles que vendiam outros gêneros, que não os alimentícios. O imposto era mais caro do que o de pombeiro, importando em 6$400r anuais, e Incidia igualmente entre as mercadorias produzidas localmente (tecidos, louças de barro) e aquelas vindas de fora, oquefoi motivo de polêmica por onerar pequenos empreendedores.